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Já é um clichê que o pessoal de exatas – engenheiros, matemáticos, contadores, cientistas – tem dificuldades de se expressar verbalmente. O seriado The Big Bang Theory explorou esse clichê por 12 temporadas que tinha como protagonista um cientista que não entendia ironia, levava tudo ao pé da letra, o que deixava tudo absurdo e engraçado.
Exageros à parte, sabemos que a realidade não é muito diferente daquilo. Quem vive de fazer contas tem bastante desenvoltura com planilhas mas pouquíssima desenvoltura na frente do público. Mas por que?
Porque falar é uma atividade por si só imprecisa. Como tudo que é feito diretamente através do nosso corpo, o resultado não é milimetricamente preciso. Se você tentar traçar uma reta de 30 centímetros com o dedo na areia, ela não vai ficar tão reta e não vai ter 30 centímetros. Se você transcrever uma palestra ou uma aula irá observar que a linguagem falada precisa de muitos ajustes para se tornar um bom texto. E essa imprecisão, que é característica da condição humana, é difícil de ser tolerada por quem vive de dar respostas precisas.
A visão de mundo do homem (ou mulher) de exatas é que se formos precisos em tudo que fizermos vamos reduzir a desordem no mundo e a vida será mais confortável, fácil e feliz. Mas ao tentar aplicar essa regra a um discurso, tudo que se consegue é nervosismo, timidez, rigidez e autocrítica exagerada. Tentar falar com precisão industrial é tentar fazer uma reta perfeita com o dedo na areia, não dá. O seu discurso e a sua reta serão imperfeitos, não importa quantas vezes você os refaça. E quanto mais você os refizer na busca da perfeição, mais nervoso e frustrado você vai ficar.
Na hora de falar, o homem de exatas precisa aceitar a condição imperfeita da expressão humana e se soltar um pouco. Abraçar a imprecisão, deixar de querer ter o domínio total da situação e de apresentar a resposta perfeita. E isso só é possível à partir do momento que ele se conscientiza que um discurso não é um projeto ou relatório em um papel impresso, são palavras que apontam para uma realidade mas não são a realidade em si mesmas. Não dá pra morar na palavra “casa” e, como dizia Aristóteles, a palavra “cão” não morde. Se você disser o que não devia, engasgar ou esquecer, é só se desculpar, rir de si mesmo, contornar a situação e seguir adiante.
Ao invés de buscar a precisão, busque o entusiasmo e a diversão. A precisão no discurso se dá ajudando o ouvinte a formar as imagens corretas na sua mente, com descrições, analogias e histórias e não tentando ser perfeito. Falando mais com o coração que com a mente é que um discurso fica mais interessante e um discurso interessante e divertido é muito mais eficiente que um discurso preciso, rígido e entediante. Joga solto!